Catadores brasileiros vivem de forma miserável
São Paulo tem cerca de 200 mil pessoas fazendo esse tipo de
trabalho, 25% do total do país. Muitos ganham R$ 100 por mês e comem o
que encontram nos lixões.
Seis da manhã. O despertador toca cedo na casa do catador de materiais
recicláveis Rogério Campos da Silva, de 37 anos. Ele apenas veste uma
roupa e sai para mais um dia de trabalho no lixão de Itapeva, cidade do
interior de São Paulo. Café da manhã é um luxo. Já o almoço e o jantar
dependem do que Rogério encontra ao longo do dia. ‘Lá eu já encontrei
carne, frango, arroz, feijão, açúcar. Tudo! Trazemos tudo pra comer...
Só o que eu tenho pra dizer.’
Baixa autoestima e mania de obediência, de encerrar as frases com ‘só o
que eu tenho pra dizer’, são algumas das sequelas da vida miserável que
Rogério e outros 60 catadores em Itapeva levam. Há dez anos nessa vida,
ele consegue tirar apenas R$ 100 por mês. O que mais compensa são as
garrafas pet, vendidas a R$ 0,50 o quilo.
A reportagem da CBN esteve no lixão de Itapeva e presenciou cenas
lamentáveis, como dezenas de catadores, desde adolescentes até idosos,
sem luvas ou qualquer outro tipo de proteção. A cada caminhão que
chegava, uma briga por prioridade. Sem contar os urubus ao redor e o
forte cheiro de decomposição.
Foi lá que encontramos Rogério, que depois nos levou para conhecer a
casa dele, no mesmo bairro. Um barraco de madeira com apenas um cômodo,
dividido entre ele, a mãe de 59 anos e outros dois irmãos mais novos.
‘Meu sonho era fazer a casa pra minha mãe e pegar um bom emprego. Pegar
um bom emprego, porque é o sonho que eu quero.’
Atualmente, 60% dos municípios brasileiros ainda possuem lixões ou
aterros controlados, segundo dados da Abrelpe. No estado de São Paulo, a
Confederação Nacional de Municípios estima que 123 cidades estão na
mesma condição. O estado mais rico do país tem cerca de 200 mil
catadores, 25% dos 800 mil espalhados pelo Brasil.
Outro cenário degradante está em Peruíbe, no litoral Sul de São Paulo.
No lugar de um lixão, um aterro controlado, que pouco se diferencia já
que também não evita a poluição do meio ambiente. Como funcionários de
uma empresa terceirizada da prefeitura vigiam o local durante o dia, os
catadores atuam apenas à noite, escondidos. Uma rotina desafiadora que
expõe cerca de 30 pessoas diariamente a contaminações, ratos e até
animais peçonhentos. Maria Madalena Sampaio, de 46 anos, explica que os
trabalhos começam no fim da tarde e vão até a madrugada.
Ela tira R$ 150 por mês e, a exemplo de Rogério, também come o que
encontra no local. ‘Às vezes uma mistura que a gente acha. Aí a gente
traz pra casa, ferve, lava com limão, sal e nós come (sic).’
A Defensoria Pública de São Paulo, por meio do Núcleo de Direitos
Humanos, acompanha a situação no estado e avalia entrar na justiça
contra os municípios que não se adequarem à lei. As prefeituras de
Itapeva e Peruíbe afirmam que estão atuando para retirar os catadores e
oferecer outras frentes de trabalho em cooperativas da região.
FONTE: CBN - Talis Maurício
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